Olá, amoralescx mais lindo e informado dessa internet. Hoje vamos falar com mais um profissional de psicologia e descobrir o que ele achou de cursar e quais os próximos passos dele. Sei que é um dos cursos que mais são procurados nas Universidades, então busquei mais opiniões. Vamos lá?
Profissão, Por Quê? Psicologia
Hoje em primeira
mão trago o Psicólogo Rodrigo Fernandes
Teixeira, 23 anos, Formado em Psicologia pela Universidade Federal do
Rio Grande - FURG, Mestrando em Psicanálise Clinica e Cultura pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.
MVPA:
Olá Rodrigo, nós do Minha
Vida Por Acaso ficamos honrados em entrevista-lo. Em uma era repleta de
mudanças, com quebras de paradigmas, e a impulsividade tomando conta da
população, muitos se sentem pressionados a terem um diploma de ensino superior,
outras se sentem obrigadas a terem qualquer diploma para que aquele pedaço de
papel determine o que ele ou ela, será em sua vida profissional.
Como você percebeu que sua vocação é a Psicologia?
Rodrigo: Olá pessoal do
Minha Vida Por Acaso, a honra é toda minha. A graduação em uma universidade
acabou tornando-se algo meio protocolar de nos últimos 15 anos, principalmente
pela facilidade de acesso que se garantiu a partir de políticas públicas. Isso
é ótimo, pois qualifica a pessoa em uma expertise, aumenta as possibilidades de
renda e colabora muito para a produção de conhecimento. Porém, tem que haver
uma ponderação para que as pessoas compreendam o que de fato é uma graduação e
o que realmente se deseja. A resposta para a pergunta é bastante curiosa, acho
que colocando um pouco da minha história isso ficará claro. Eu não acredito em
vocação! Na verdade tenho até certa ojeriza aos termos como “Dom”, como sendo
algo natural, as coisas se desenvolvem na gente a partir de inúmeras formas e
não creio em algo a priori.
Eu terminei o ensino médio com 16 anos, nesse
momento fiz o ENEM. Não tinha feito cursinho nem nada, não sabia o que queria
fazer, mas sabia que tinha que fazer um curso superior. O ENEM foi em novembro
ou outubro de 2012, eu acertei uma média boa de questões e, diferente do
vestibular, pode-se escolher o curso para qual nos submeteremos após a prova.
Nenhuma das opções me agradava muito, porém, eu tinha algo durante a minha
adolescência que era enfatizado por alguns amigos: Tinha a estranha habilidade
de ler eventos e conjunturas de modo com que parecesse que eu adivinhava
coisas.
Então isso me fez pensar “Hum, acho que isso pode ser legal em um curso
como Psicologia” daí escolhi assim. Não teve glamour de sempre sonhar com isso,
querer ajudar e salvar o mundo, foi algo bem mais pragmático, afinal, as
decisões que tomamos com 16 anos não parecem depender de sonhos tão fixados que
durem para uma vida toda. Acho que o grande barato da universidade é a experimentação
da vida, aprender coisas novas, estar disposto a estudar e pesquisar muito. Mas
claro, é uma versão muito subjetiva dos fatos.
MVPA: A cada dia que passa, são descobertas novas patologias, claro que isso se torna inevitável com o avanço da medicina, porém quando falamos em psicologia, algo de cunho atemporal sobrevém em nossa mente. O Minha Vida Por Acaso por ser um blog que visa um multiculturalismo, aborda vários assuntos, um deles é o lado psicológico. Quem acompanha a Blogueira Paula Marcondes no seu Instagram (@minhavidaporacaso) já pode perceber que ela é fã do Canal FREAK TV onde seu criador de conteúdo (Milho Wonka) aborda assuntos criminais e traz em forma de entretenimento as “Mentes Diabólicas” das pessoas, desde os anos 1300 E.C.
Os problemas psíquicos não são novidade para ninguém,
e bem sabemos que há históricos datados bem antes de 1.300, mas levando em
consideração a evolução histórica da sociedade e juntamente seus distúrbios
psicológicos, você acredita que o aumento de pacientes necessitando de apoio
emocional seja um fator decisivo ao escolher a psicologia?
Rodrigo: Pessoalmente não
creio que seja um fator determinante para a escolha, porém, é um fator que faz
com que o saber psicológico se movimente. Isso também é algo que depende de
muitas discussões, pois, veja bem, quando falamos em “Psicologia” não há um
consenso teórico acerca do objeto ou acerca do sujeito e isso faz com que hajam
conflitos, eventualmente, com o saber psiquiátrico.
Eu sou da turma que é um
pouco crítica a um excesso diagnóstico e do saber psiquiátrico como
possibilidade de aprisionamento do corpo. Pode não parecer de início, mas essa
discussão é extremamente importante e filosófica, afinal, a loucura é uma
ausência de razão (no sentido dado por Descartes) ou uma razão outra? O
Foucault vai entender que tem todo um processo de tratamento da loucura que vem
num sentido de exclusão do sujeito que sofre, inicialmente recolhidos e levados
para fora das cidades, depois colocados em asilos dentro das cidades, porém,
isolados da mesma. Mas a loucura talvez seja um fenômeno mais extremo para
pensarmos.
Pensemos, então, nos DSM – Diagnostic and Statistic Manual of Mental
Disorders. Se pararmos para olhar a quantidade de doenças psíquicas registradas
no primeiro e no último (quinta versão) veremos que há um aumento significativo
de quase 5 vezes. Alguns fatores são muito interessantes de pensarmos, por
exemplo, até o DSM 2 a homoafetividade era considerada um transtorno, como
explicamos isso? Hoje em dia parece uma insensatez dizer que a homoafetividade
é uma doença (apesar de existirem pessoas querendo a cura gay), assim como
parece uma insensatez enorme dizer que a histeria é causada pelo deslocamento
do útero da mulher. Porém, a ampliação das categorias diagnósticas faz com que
possamos desenvolver métodos e tratamentos para as mesmas, ao mesmo tempo que
algumas categorias diagnósticas são criadas e a incidência de tais doenças
chega a um nível muito alto. Por exemplo a síndrome de Burnout, a partir do
momento da nomeação dela existe possibilidade para que se leve a sério os
excessos de trabalho. Podemos pensar também algo como a bulimia, é uma área que
não domino muito, mas tem algo que não fica claro sobre ela: ela é uma doença
ou um sintoma de que algo vai muito mal? E acho que aí que está a chave para o
trabalho na sociedade de hoje, onde há uma tendência muito forte à
hipermedicalização e ao inchaço de diagnósticos, afinal, se qualquer um lesse o
CID ou o DSM, em quantas doenças se
encaixaria? A ideia é ouvir mais as
pessoas e as narrativas e tirar um pouco desse excesso, limpar as chaminés,
como diria Anna O. para Breuer e Freud.
MPVA:
Conforme você nos disse, seu mestrado é na área da
psicanalise, visando seu domínio nessa área, é possível haver influencia direta
por meio visual? Por exemplo: Filmes como Jogos Mortais, Sexta Feira 13,
Brinquedo Assassino, podem vir a causar traumas psicológicos e influenciar o
individuo a cometer crimes ou atitudes semelhantes à dos filmes/séries?
Rodrigo: Essa pergunta
responde, também, o motivo pelo qual as respostas são longas e bem livremente
associadas! Afinal minha base teórica é mais psicanalítica. Essa pergunta é bem
interessante. Tenho um bom interesse pela área do cinema e, de início, acho que
essa história de que filmes ou jogos incitam a violência uma certa balela.
Acontece as vezes, mas a explicação não é a imagem em si. O cinema, ao meu ver,
tem muito mais a ver com o desejo. Gosto muito de uma frase do Slavoj Zizek no
filme “The pervert guide to cinema” que ele fala “O cinema é a mais perversa
das artes, ela não dá o que você deseja, ela te ensina a desejar.” Isso é algo
que considero muito forte, pois o que acontece na experiência cinematográfica é
uma alienação à realidade externa, tanto que vemos quando um filme é bom quando
ele nos captura de forma inteira. Essa ideia de que filmes muito violentos
podem causar traumas ou promover a violência, a meu ver, servem muito mais como
um argumento para a censura de ideias que não são bem-vindas socialmente, o
Coringa lançado agora é um exemplo muito claro disso.
A violência e o que será
potencialmente traumático depende muito de fatores culturais, se pararmos para
pensar em dois casos bem famosos como de John Lennon e Dimebag Darrell, ambos
assassinados por fãs, vemos que nenhum deles possuía um discurso que incitava a
violência, mas foram assassinados de forma brutal. Tem a história do efeito
werther, mas isso diz muito mais da nossa inabilidade de lidar com o tema do
suicídio do que do livro do Goethe e suas consequências na sociedade alemã.
Eu
acho que há uma dose de vouyerismo nesse nosso hábito de olhar programas ou
filmes violentos, tem uma música chamada Vicarious de uma banda chamada Tool
que descreve isso muito bem, há uma satisfação nossa consumindo esse tipo de
produto e, talvez, essa realização na fantasia até impeça que isso seja posto
em prática.
MVPA: Você teve alguma
influência para especializar-se em Psicanalise?
Rodrigo: Tive bons
encontros durante a graduação. Fora que estudando a psicanálise acabei
percebendo que essa visão teórica dava conta do meu entendimento de mundo de
uma forma bastante interessante. O que mais me fascina na psicanálise é que o
centro de tudo está no não saber. Em alemão (língua mãe da psicanálise)
inconsciente é o mesmo que “não sabido”, ou seja, o que importa é aquilo que
estamos alheios mesmo. Isso é uma posição terrivelmente angustiante, pois faz
com que as certezas sejam poucas, porém, é eticamente importante, pois nos
coloca em uma posição de muito mais escuta e atenção. Mas a psicanálise é cheia
de balelas também (rioso).
MVPA: Vamos para aquela
pergunta que dissemina a maldade mental. Se fosse para escolher outra
profissão, qual seria e por quê?
Rodrigo: Pra mim essa
pergunta é meio simples até, pois gosto muito de muitas coisas. Acho que se
perdesse minha licença ou tivesse meu diploma cassado viraria cozinheiro,
tentaria fazer faculdade de gastronomia. Pois é algo que gosto muito de fazer e
talvez até conseguisse ser minimamente razoável.
MVPA:
Em um mercado abarrotado
de “profissionais” ou podemos chamar de “individuo com um diploma na mão”, como
se destacar no meio da multidão? Como ser um bom Profissional?
Rodrigo: Tendo boas redes
de contato e se especializando. Não podemos pensar de forma muito generalista
dentro da psicologia. Por exemplo, eu não trabalho muito com testagem
psicológica, até sei aplicar alguns testes e sou apto para isso, porém, não é
minha especialidade, me sentiria mais confortável ao me deparar com uma demanda
assim de encaminhar para algum colega. Acho que a coisa é muito nesse sentido,
desse feeling de saber o que se faz e principalmente o que não se faz. Um
supervisor me deu uma dica uma vez que levo para a vida toda, ele disse: “Se tu
não sabe o que fazer, não faz nada, assim não corre o risco de fazer coisa
errada”.
MVPA:
Sabemos que ser Psicólogo não significa ser militante, mas
em seu ponto de vista, diante de tempos de euforia, o que você diria sobre as
militâncias, há uma associação psicológica? Talvez a “militância” constante
seja uma forma de auto aceitação, ou o processo de conscientização se confundiu
com crises existenciais, onde é resolvido nas “redes sociais”?
Rodrigo: Acredito que a militância está alicerçada em
movimentos indenitários. Acho que sempre foi um pouco assim, na verdade, as
ondas nacionalistas, por exemplo, são sempre muito atreladas a uma noção indenitária
de pertencimento, isso o Walter Benjamin já deixou muito claro no seu fragmento
"Alemão bebe cerveja alemã!". Agora, a militância que se preocupa com
o sofrimento relativo às minorias também se alicerça assim. Parte disso é muito
importante, como a noção de lugar de fala. Isso coloca um aspecto fundamental
sobre qualquer discussão, pegando o racismo, por exemplo, eu sou branco, não
sou eu que tem que determinar o que é ou não racismo, é quem sofre. Porém, isso
pode enveredar para um lado onde se hierarquize a fala e que não tenha como
haver uma multiplicidade de vozes debatendo um tema. Ao mesmo tempo que eu não
posso determinar a pauta racial, por exemplo (e nem desejo isso) acho
importante que se possa participar de políticas para que se compreendam os
fenômenos e que se combata o problema de forma estrutural. As redes sociais são
um outro problema, na verdade eu não tenho uma opinião formada, mas sou
pessimista, acho que existe, de fato, uma guerra híbrida em curso e isso
colabora para o não engajamento e a desarticulação da militância social em
geral.
MVPA:
Você pretende
aprofundar-se academicamente? Ou irá juntar o acadêmico com a parte clinica
desde já?
Rodrigo: Essa é espinhosa! Na
verdade eu não sei ainda.
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Se tudo der errado, a Música te levará a outros horizontes caro amigo! |
MVPA:
Já estamos terminando Rodrigo, mais duas perguntas tá bem?
É comum as pessoas irem para a
psicologia visando à parte financeira, autos ganhos. Qual é sua visão sobre
isso?
Rodrigo: Acho respeitável. Tenho
pavor aquela ideia de que devemos escolher uma profissão por amor, penso que
devemos pensar num sentido de competência. Mas também penso que devemos pensar
num sentido de compromisso social, ou seja, que o saber não sirva apenas para
uma ideia de enriquecimento mas de melhora para a comunidade.
MVPA:
Qual o conselho que você poderia deixar para os Amoralescxs
do Minha Vida Por Acaso?
Rodrigo: Bebam água, experimentem comidas diversas, leiam Machado de Assis, vejam os filmes do Lars Von Trier e peguem leve.
Rodrigo, nós do Grupo Minha Vida Por Acaso agradecemos muito pela sua disposição em ceder essa
entrevista, e esclarecer algumas dúvidas, principalmente nortear quem ainda
está indeciso com a psicologia.
Desejamos-lhe todo o sucesso do mundo.
Abaixo seguem as formas mais práticas de entrar em contato com o Rodrigo:
Telefone para contato profissional: 53999368609
E-mail Profissional para contato: rodrigo.fds.t@gmail.com
E-mail Profissional para contato: rodrigo.fds.t@gmail.com
E você o que achou dessa entrevista? Também sonha em ser psicólogo? Conta pra mim.
* Entrevista
Elaborada por: @dihmarcondess em 22/10/2019
Olha que entrevista bacana!
ResponderExcluirRealmente entender a mente humana não deve ser muito fácil e exige uma grande compreensão primeiramente do seu EU e depois o do próximo.
Devo dizer que o Milho é muito bom, ele deveria ser mais conhecido!
Rodrigo, apesar de você falar coisas dificeis que usei o Google pra me explicar, eu consegui entender essa sua paixão pela psicanalise.
Sucesso
oi!
ResponderExcluirParabéns pela entrevista :D acho muito interessante Psicologia, já pensei em fazer faculdade de Psicologia pois é muito bom poder ajudar as pessoas..
Psicologia um misto de sentimentos seria uma das minhas escolhas caso fosse para universidade estudei na escola e fiquei a adorar
ResponderExcluirMuito rica a entrevista com o Rodrigo! Ele parece ser um profissional bem sério e que sabe bem as ideias que defende! Acho isso singular! Mais uma entrevista agradável e cheia de bons conhecimentos!
ResponderExcluirUm abraço!
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirEu já tive vontade de cursar psicologia, mas isso foi uns três anos atrás e eu já tinha algumas formações. Eu adorei a publicação e entrevista, o Rodrigo parece ser um profissional competente.
Abraço!
Sempre quis ser a área da psicologia por achar incrível, tem um leque gigante de oportunidade de carreiras! Mas acabei indo pra letras mesmo haha
ResponderExcluirEu acho essa profissao linda! Eu fiquei na duvida de fazer psicologia ou arquitetura. Optei por arquitetura, mas penso em fazer psicologia um dia
ResponderExcluirTeve uma época que eu queria ser psicologa, mas não sei se eu daria conta, então acabei deixando pra lá mesmo hahahahaha
ResponderExcluirAdorei o papo com ele! Muito competente e desejo muito sucesso na carreira!